Vitor Moura e Luciana Alt

(membros do Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas e Instituto do Carste)

Infelizmente, com a tecnologia atual ainda é impossível visitar um ambiente subterrâneo sem causar impactos. Nas cavernas existem feições frágeis, como delicados espeleotemas, corpos d’agua cristalinos e depósitos sedimentares sem nenhum tipo de perturbação causada pelo ser humano no decorrer de séculos ou milênios. Mas ao entrar numa caverna tenha certeza que mesmo sua respiração causa mudanças no ambiente, imagine então o pisoteio indiscriminado de áreas frágeis? Muitas destas alterações, às vezes causadas involuntariamente e por desconhecimento, são irreversíveis, como a quebra de um espeleotema delicado ou a destruição das finas camadas de um depósito sedimentar contendo vestígios e informações paleontológicas, geoespeleológicas ou arqueológicas.

Mas é possível minimizar os impactos causados pela nossa visita a este tipo de ambiente. O primeiro ponto a ser trabalhado pelo visitante, seja qual for a sua atividade numa caverna, diz respeito à orientação e caminhamento responsável. Pesquisar previamente um mapa, caso exista, e planejar sua visita seguindo as devidas autorizações dos órgãos competentes é fundamental. Ficar perdido numa caverna é uma das formas mais fáceis de causar impactos irreversíveis e extensos. Adicionalmente, em qualquer atividade recreativa, esportiva, educativa ou de pesquisa, delimitar trilhas dentro das cavernas, e segui-las, ajuda a minimizar os impactos inevitáveis do pisoteamento, que ficam restritos à uma área menor. Caso exista um plano de manejo espeleológico realizado na caverna em questão, o zoneamento deve ser respeitado para a proteção de áreas frágeis. Algumas atividades, como a espeleofotografia, são críticas em causar impactos, pois é comum os fotógrafos e auxiliares saírem de trilhas delimitadas buscando a melhor imagem. Mas um fotógrafo de mínimo impacto deve buscar não pisotear locais desnecessariamente, e preservar a caverna acima de tudo!

Outro ponto muito importante é a iluminação utilizada pelo espeleólogo. Com uma boa luz principal, com modos de visão ampla e focalizada, combinada e luzes auxiliares de segurança, fica mais fácil entender as fragilidades de uma caverna, evitar o pisoteamento de áreas frágeis e, por que não, apreciar melhor o ambiente subterrâneo.

Como regra geral, pequenos grupos de espeleólogos causam menos impactos. E quanto maior o treinamento e agilidade para a progressão em meio subterrâneo, menores serão as alterações causadas. Um espeleólogo inseguro, sem equilíbrio e mal treinado acaba se apoiando e pisando em locais frágeis, causando impactos sem notar. Ao ficar mais de duas horas dentro de uma caverna mesmo um pequeno grupo ágil e cuidadoso irá se alimentar e terá necessidade de satisfazer suas necessidades fisiológicas. Isso gera outro problema, o aporte eventual de resíduos de alimentos, fezes e urina, que serão fonte de impactos principalmente sobre as comunidades cavernícolas. Dentro da ótica do mínimo impacto esses resíduos não podem ser deixados na caverna. A solução então é carregar tudo consigo para fora da caverna!

Planejar, treinar e avaliar previamente as consequências da sua atitude como espeleólogo são ações primordiais para a busca de uma espeleologia de mínimo impacto. Afinal, as cavernas com sua importância patrimonial, fragilidade e características únicas pedem uma atitude responsável.