Washington Simões

A caverna é um dos locais onde o paleontólogo pode ter mais sucesso nas suas investigações do passado da vida sobre a Terra.

Não que os animais vivessem dentro das cavernas e, quando mortos, tivessem seus ossos preservados. Como sabemos, os animais que vivem dentro das cavernas, ou mesmo, os que se aventuram, proposital ou acidentalmente, dentro das cavernas são poucos. A verdadeira razão de encontrarmos fósseis de animais em cavernas é pelo fato de terem sido carregados para lá pela ação da água, quer de rios, quer de enchentes. Portanto, na quase totalidade das vezes o que encontramos dentro de uma caverna são os fósseis de animais exógenos, ou seja, de origem externa.

As carcaças dos animais mortos carregados pela água e depositados no solo da caverna passam a sofrer a ação desse novo ambiente. A alcalinidade da caverna, notadamente as formadas em rocha calcária, terão uma ação decisiva na conservação dos ossos. A deposição de camadas de sedimentos e de soluções saturadas de cálcio, darão resistência aos ossos, principalmente se o calcário dissolvido preencher os espaços vazios das peças. É o que se chama “mineralização”.

Dependendo das condições internas da caverna e de onde esses restos mortais foram depositados, os ossos poderão ser encontrados mais resistentes ou mais frágeis. Mineralizados ou não. Com uma coloração mais clara ou mais escura. Portanto, é sempre muito importante que qualquer coleta de fósseis em uma caverna seja feita apenas por um especialista, pois qualquer dado que a um leigo possa passar despercebido, para um paleontólogo poderá ser fundamental para a compreensão e interpretação do achado.

Os fósseis encontrados em cavernas brasileiras são do final do Pleistoceno e início do Holoceno, período em que ainda estamos. As datações, realizadas através de complexos processos utilizando a radiação e a transformação do Carbono 14 ou dos cristais de calcita, indicam que os fósseis encontrados nas cavernas brasileiras são de animais que viveram entre vinte mil e seiscentos anos e dez mil anos, portanto, muitos foram contemporâneos do Homem.

As grutas da região do Vale do Ribeira foram pesquisadas pelo naturalista Ricardo Kröne no final do século passado, e nelas foram encontrados fósseis de vários animais, dentre eles, roedores, tatus, lebres, felinos, porcos-do-mato, veados, preguiças, morcegos e marsupiais.

Em quase todas as regiões brasileiras, os ambientes de cavernas já proporcionaram material de pesquisa aos paleontólogos. Os destaques ficam para os achados na região de Lagoa Santa (MG) feitos por Peter Lund, além de várias outras regiões no norte mineiro, a riqueza fossilífera das grutas da Bahia, bem como os recentes achados em cavernas inundadas no Mato Grosso do Sul.