Por Ricardo Martinelli (União Paulista de Espeleologia – UPE)

Quando Édouard-Alfred Martel em 1888 iniciou suas explorações espeleológicas na França, a documentação tanto espeleométrica, quanto de coleta de dados em cavernas relacionados a biologia, geologia, paleontologia e afins começava a fazer sentido, porém, questões científicas e mapas topográficos despertavam pouco interesse na população em geral. Existia, portanto, uma lacuna a ser preenchida; como aumentar o interesse dos governos, organizações não governamentais e dos leigos por um ambiente totalmente desconhecido e inóspito? Essa difícil interlocução foi deixada a cargo da documentação em forma de imagens geradas por desenhos, gravuras, pinturas e posteriormente fotografias; Martel sabia disso, por este motivo produziu lindíssimos desenhos de paisagens subterrâneas e explorações da “Société de Spéléologie“.

No Brasil, um bom tempo antes de Martel, Peter Andreas Brandt, um desenhista norueguês de grande talento acompanhou o paleontólogo dinamarquês Peter Wilhelm Lund por diversas cavernas na região de lagoa santa, documentando seu trabalho de exploração e coleta de dados, produzindo uma vasta quantidade de gravuras que hoje são considerados documentos históricos, registros de uma época.

Avançando no tempo, a fotografia em cavernas se desenvolveu à medida que equipamentos mais sofisticados, compactos e leves ficaram à disposição de uma quantidade maior de pessoas. Desde Tournachon (1820 – 1910) que utilizava um sistema de baterias rudimentares com emissão de gazes tóxicos, passando pela época do magnésio que produzia uma luz intensa, até os smartphones atuais com captura digital e alta sensibilidade, muitas cavernas foram documentadas e as imagens serviram para diversos fins; científicos, de preservação, comerciais, artísticos ou simples registros de visitantes esporádicos.

A construção de imagens de impacto e que despertem algum sentimento no público em geral continuam muito similares e desafiadoras, Waldack por volta de 1866 percebeu que lateralizando a luz de magnésio, texturas e sombras interessantes eram produzidas, desde então, questões técnicas como composição, profundidade de campo, foco entre outros exigem do postulante a fotógrafo de cavernas, conhecimento apurado, atualização constante e perseverança.

Atualmente, a arte de documentar o subterrâneo conta com a enorme ajuda da tecnologia, mas não foi sempre assim, a fotografia de cavernas contemporânea se acostumou a usar maquinas de filme 35 mm, onde os resultados somente se revelavam dias após a exposição do filme, onde muitas vezes os resultados só poderiam ser melhorados com uma nova incursão ao mesmo local, as vezes meses depois, gerando uma curva de aprendizado lenta.

Com o advento das maquinas digitais, muitos problemas foram sanados e a produção de imagens de cavernas se multiplicaram, porém, quantidade não que dizer qualidade. Infelizmente o uso de flash eletrônico, lanternas de LED superpotentes, comandos de rádio, máquinas de última geração, tripés estáveis e com baixo peso custam caro e são essenciais para iluminar corretamente assuntos e grandes salões. Distribuir bem a luz, orientar uma equipe de três ou mais pessoas, estudar a luz corretamente normalmente levam a bons resultados, muitas vezes após algumas tentativas, todos trabalham desta maneira na espeleofotografia.

Uma boa dica para melhorar seus “clics subterrâneos” é sempre usar uma luz por traz do modelo, o que chamamos de “back light”, isso destaca a pessoa e facilita a leitura da foto. Procure linhas nas paredes, perspectivas, reflexos, formações raras, rios onde a imagem possa transmitir certo movimento, tudo isso pode despertar curiosidade em que observa sua foto, destacando-a das demais. Abaixo alguns exemplos de técnicas utilizadas.