Por Carlos Henrique Grohmann (Instituto de Energia e Meio Ambiente – Univ. de São Paulo, Brasil)

Assim como “Geo” em grego significa “Terra”, a geoespeleologia está ligada aos aspectos e abordagens das Ciências da Terra (ou Geociências) para caracterizar o Meio Físico das cavernas.

Você já visitou uma caverna e se perguntou qual tipo de rocha daquele local? Ou por quê uma região tem mais cavernas do que outra? Que idade as cavernas têm? Milhares de anos? Milhões? Todas essas questões são foco da geoespeleologia.

Conhecer a geologia de uma região nos diz quais os tipos de rocha  existem ali. A maioria das cavernas se desenvolve em rochas carbonáticas (formadas principalmente por carbonato de cálcio, CaCO3) como os calcários e mármores, mas também existem cavernas em arenito (rochas sedimentares formadas de grãos do tamanho de areia), basalto (uma rocha vulcânica), minério de ferro e até na base de encostas e serras graníticas onde é possível explorar os espaços entre os blocos de rocha e solo que formam um depósito chamado de tálus.

A geomorfologia examina área externa às cavernas, com foco nas formas de relevo e nos processos que as esculpem ao longo do tempo. Regiões de rochas carbonáticas com sistemas de cavernas costumam exibir uma paisagem bastante particular chamada de relevo cárstico, com rios que se tornam subterrâneos quando entram em sumidouros e que podem voltar à superfície em surgências. Depressões circulares no terreno chamadas de dolinas funcionam como pontos de captação do fluxo de água superficial e muitas vezes dão acesso a sistemas de cavernas.

A ação das chuvas, ventos e vegetação vai promover o desgaste (erosão) das rochas de uma região, e o material liberado vai ser carregado pelas encostas dos morros até os rios, que podem levá-lo para outro rio maior, ou podem depositar (sedimentar) esse material em suas margens e meandros, dentro ou fora das cavernas. O material depositado é chamado de sedimento clástico (em grego, “clastos” significa “pedaço”), e pode conter, além dos pequenos pedaços de minerais e rochas, fósseis de plantas e animais, que podem ter sua idade determinada por geocronologia. Existem técnicas que podem até mesmo datar quando o sedimento entrou na caverna e deixou de receber luz do sol. Legal, né?

Ao abrigar grande quantidade de água em condutos subterrâneos de tamanhos variados (muitos inacessíveis à exploração humana), as regiões cársticas constituem grandes aquíferos, e seu estudo do ponto de vista da hidrogeologia é muito importante, pois são muito vulneráveis a impactos ambientais e respondem pelo abastecimento de água de cerca de 10% da população mundial.

E a mesma água subterrânea que desgasta as rochas carbonáticas para ampliar os condutos das cavernas pode se tornar saturada e depositar o carbonato em espeleotemas: estalactites, estalagmites, etc (“thema” significa “depósito” em grego). Além da sua beleza visual única, a composição química de alguns espeleotemas pode revelar o comportamento do clima no passado, e nos ajudar a entender as mudanças climáticas que observamos hoje.